Disquesia: Entenda o que é e como lidar com esse momento do seu bebê

Você sabia que o choro e a força que seu bebê faz antes de evacuar podem ser algo completamente normal? Esse comportamento, que muitas vezes deixa os pais preocupados, pode ter um nome: disquesia. Neste texto, vamos explicar o que é, como identificar e lidar com esse momento tão característico dos primeiros meses de vida.


O que é disquesia?

disquesia do lactente é uma condição comum e transitória que acontece quando o bebê ainda está aprendendo a coordenar os músculos abdominais e pélvicos para evacuar. O bebê pode chorar, fazer força, ficar vermelho e, em alguns casos, levar até 20 minutos para conseguir fazer cocô – mesmo com as fezes amolecidas.

Esse processo é completamente normal, pois o sistema digestivo do bebê, assim como o resto do corpo, está em desenvolvimento. Ele precisa aprender a alinhar o esforço para evacuar com o relaxamento da musculatura pélvica e a abertura do esfíncter anal.

É importante reforçar que a disquesia não é uma doença, mas sim parte do amadurecimento natural do bebê, e desaparece com o tempo.

Nesse vídeo, eu explico porquê a disquesia muitas vezes é entendido de forma errônea pelos pais como sintomas de constipação, o que acaba levando a prescrição de laxantes e medicamentos incorretos, sem indicação de manejo para a mesma.


Quais são as suas causas?

  1. Imaturidade do sistema nervoso e muscular: o bebê ainda está aprendendo a gerar pressão abdominal (aumentar a pressão na cavidade abdominal para empurrar as fezes) e relaxar o esfíncter anal. Ou seja, ao mesmo tempo em que ele força a musculatura abdominal para evacuar, ele precisa relaxar a musculatura pélvica e abrir o esfíncter anal, algo que ainda não consegue coordenar de maneira eficaz.
  2. Sistema digestivo em desenvolvimento: o trato gastrointestinal do bebê ainda está amadurecendo, o que pode dificultar o movimento das fezes no intestino e sua eliminação.A presença de gases é comum e pode aumentar o desconforto durante o esforço para evacuar.
  3. Desconforto ambiental: o bebê pode sentir desconforto ou ansiedade em determinados momentos, o que interfere no relaxamento necessário para evacuar. Uma estratégia para isso seria colocar o bebê em um ambiente mais tranquilo e calmo, próximo do seu habitual, quando você perceber que ele está tentando fazer cocô.
  4. Posicionamento desfavorável: diferente de um adulto, que pode adaptar sua postura para facilitar a evacuação, o bebê geralmente está deitado, o que não favorece a pressão abdominal natural necessária para evacuar.

Disquesia, sintomas

E os Sintomas?

Os principais sinais e sintomas de disquesia são:

  1. Esforço e choro antes de evacuar: O bebê pode chorar por até 10-20 minutos antes de conseguir evacuar.
  2. Expressões de desconforto: Ficar vermelho ou até roxo no rosto, esticar as pernas e se contorcer.
  3. Fezes amolecidas: Diferente da prisão de ventre, as fezes do bebê com disquesia podem ser amolecidas.
  4. Melhora após evacuar: Assim que o cocô sai, o bebê volta a ficar tranquilo e calmo.

Esses sintomas geralmente desaparecem sozinhos conforme o bebê aprende a coordenar os movimentos para evacuar, o que pode levar algumas semanas ou meses.


7 Mitos sobre à disquesia

  1. “Meu bebê está com prisão de ventre (constipação).”
    • Realidade: A disquesia não é constipação. O bebê consegue evacuar, mas com dificuldade inicial, devido à imaturidade do reflexo de coordenação entre os músculos abdominais e o relaxamento do esfíncter anal.
  2. “Isso é sinal de algo grave no intestino.”
    • Realidade: A disquesia é uma condição normal e autolimitada. Não indica nenhum problema estrutural ou funcional grave no intestino.
  3. “O bebê precisa de laxantes ou supositórios.”
    • Realidade: O uso de laxantes ou supositórios não é indicado, pois a disquesia não está relacionada à dureza das fezes. Essas práticas podem prejudicar o desenvolvimento do reflexo natural de evacuação.
  4. “Meu leite não é suficiente.”
    • Realidade: O leite materno é o alimento ideal para o bebê e não está relacionado à disquesia. A condição ocorre independentemente do tipo de alimentação.
  5. “Meu bebê sente dor durante a evacuação.”
    • Realidade: Apesar dos grunhidos, caretas e esforço, a disquesia não causa dor. O bebê está aprendendo a coordenar os movimentos necessários para evacuar.
  6. “Meu bebê precisa de mudanças na dieta ou fórmulas especiais.”
    • Realidade: Não há necessidade de alterar a dieta do bebê ou da mãe (se estiver amamentando), pois a disquesia não está relacionada a alergias ou intolerâncias alimentares.
  7. “A disquesia precisa de intervenção médica imediata.”
    • Realidade: A disquesia não exige tratamento médico na maioria dos casos. Pais devem buscar ajuda apenas se houver outros sinais preocupantes, como sangue nas fezes, febre, vômitos persistentes ou perda de peso.

Erros mais cometidos

  1. Erro: Acreditar que a disquesia é prisão de ventre e tratar o bebê com laxantes, supositórios ou mudanças na dieta.
    • Por que é um erro? Na disquesia, as fezes são normais (amolecidas). O problema está na imaturidade do reflexo de evacuação, e não na consistência das fezes.
  2. Erro: Usar supositórios, termômetros ou outros métodos para estimular o ânus sempre que o bebê parece ter dificuldade para evacuar.
    • Por que é um erro? Esses métodos podem atrapalhar o desenvolvimento natural do reflexo evacuatório do bebê, tornando-o dependente de estímulos externos.
  3. Erro: Achar que o esforço do bebê, como grunhidos, choro ou caretas, é sinal de dor intensa.
    • Por que é um erro? Esses comportamentos não indicam dor significativa, mas sim esforço e frustração enquanto o bebê aprende a coordenar os movimentos necessários para evacuar.
  4. Erro: Alterar a dieta do bebê ou da mãe
    • Por que é um erro? A disquesia não tem relação com alergias alimentares, intolerâncias ou tipo de alimentação. Alterações na dieta são desnecessárias e podem até prejudicar a nutrição do bebê.

Diagnóstico: critério de Roma IV

Diagnóstico de disquesia - Dra Camila

A disquesia do lactente é diagnosticada com base no critério de Roma IV, que considera:

  1. Choro ou esforço por pelo menos 10 minutos antes da evacuação.
  2. Ausência de outras condições médicas que expliquem o quadro.

Geralmente, o diagnóstico é clínico, para isso, você necessitará do seu pediatra para ajudar a confirmar a disquesia e descartar outras possíveis causas.


Tratamento

disquesia não exige tratamento específico, pois é um processo normal de desenvolvimento do bebê e desaparece espontaneamente com o tempo, geralmente por volta dos 3 a 6 meses de idade. No entanto, há medidas que podem ajudar a aliviar o desconforto e tranquilizar os pais durante essa fase:

Medidas para ajudar o bebê com disquesia

  1. Mantenha a calma e acolha o bebê: o choro e o esforço podem parecer intensos, mas não indicam dor. Tenha paciência e procure consolar o bebê com carinhos e afagos.
  2. Dobre as perninhas sobre a barriga: essa posição ajuda a aumentar a pressão abdominal, facilitando a evacuação. Faça isso suavemente enquanto o bebê está deitado.
  3. Massagens no abdômen: realize movimentos circulares com as mãos no sentido horário, que podem ajudar a liberar gases e promover o relaxamento. Para isso, nós disponibilizamos um manual técnicas de massagem para Cólicas e Choro do Bebê que você pode baixar de maneira gratuita dentro da nossa plataforma da Hotmart para membros sem acesso do Projeto Grande Ser e aplicar as técnica no seu bebê para alívio do desconforto. Baixar o manual.
  4. Bolsa de sementes morna: coloque uma bolsa de sementes levemente aquecida (não quente!) sobre o abdômen do bebê para ajudar a relaxar a musculatura e reduzir o desconforto.
  5. Permita um tempo sem fralda: deixar o bebê sem fralda por alguns minutos pode reduzir a pressão na área pélvica e permitir que ele se sinta mais confortável.
  6. Evite intervenções desnecessárias: não use supositórios ou outros estímulos anais, a menos que orientado por um pediatra. Esses métodos podem atrapalhar o desenvolvimento natural da coordenação muscular do bebê. Evite também oferecer laxantes ou outros medicamentos, pois a disquesia não é causada por constipação.
  7. Adapte a posição do bebê: segure o bebê em uma posição semelhante à de cócoras, com as costas apoiadas no seu braço e as pernas dobradas. Essa postura pode ajudar a evacuar.

Mas afinal, quando consultar o pediatra?

Embora a disquesia seja normal e autolimitada, procure orientação médica se:

  • O bebê parecer sentir dor intensa e contínua;
  • As fezes forem endurecidas (sinal de constipação, e não disquesia);
  • Houver presença de sangue nas fezes;
  • O bebê não ganhar peso adequadamente ou apresentar outros sinais de alerta, como irritabilidade persistente ou febre.

Passo a passo do que fazer quando o bebê tiver disquesia

  1. Observe e identifique os sinais de disquesia:
    • Esforço para evacuar (grunhidos, caretas, choro).
    • Fezes normais, de consistência macia.
    • Episódios que duram de 5 a 10 minutos antes de evacuar.
  2. Tranquilize-se e evite intervenções imediatas, a disquesia é normal e autolimitada. Não é necessário usar supositórios, fazer estímulos com termômetros, dar laxantes ou remédios.
  3. Segure o bebê no colo e acalme-o com carinho, um tom de voz tranquilo, uma posição confortável.
  4. Tente aliviar o desconforto (se necessário). Embora a disquesia se resolva sozinha, você pode ajudar o bebê a relaxar com:
    • Massagens abdominais suaves: faça movimentos circulares no sentido horário na barriga.
    • Movimento das pernas: dobre suavemente as pernas do bebê em direção à barriga, imitando um “pedalar” (chamado de bicicleta).
    • Banho morno: ajuda a relaxar a musculatura.
    • Ruído branco: ajuda a acalmar o bebê
  5. Não altere a alimentação: não é necessário mudar o leite materno ou fórmula infantil, nem a dieta da mãe (se estiver amamentando).
  6. Fique atento aos sinais de alarme: se você observar algum dos sintomas abaixo, procure um médico, pois podem indicar outra condição:
    • Fezes duras ou ressecadas.
    • Sangue nas fezes.
    • Febre ou vômitos.
    • Dificuldade persistente para evacuar além dos 4 meses de idade.

Conclusão

A disquesia é uma fase do desenvolvimento, um sinal de que o corpo do seu bebê está aprendendo algo novo. Apesar de ser difícil assistir ao desconforto, lembre-se de que isso não traz prejuízos à saúde dele e, em poucos meses, essa coordenação se ajusta.

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Camila Ramos - Pediatra
  • Última modificação do post:dezembro 9, 2024
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